Gleba é diferente de
qualquer lugar. Isto é, quem vai a Gleba, se há quem já tenha ido,
sabe que Gleba não é lugar. Chegar a Gleba pela manhã, se é que
se chegue, é desconcertante. E o desarranjo ingeográfico em Gleba
deve-se ao fato de que um homem de Gleba certa vez leu a Comédia do
Paraíso pra trás e não virou Santo. Diriam que todo o processo de
canonização não durou pouco mais que uma manhã e que, graças ao
Santo que não foi, Gleba quase se tornou um lugar.
Como se vê, começaram
a falar de lá. E falam que, no verão outono, ficariam em Gleba pela
tarde, se em Gleba se ficasse. A esta hora?, dizem que diriam, A esta
hora em Gleba?! E cogitam mais. Discutem. Conversam. Todos.
Mesmaotempo. Dissoante. E o som se propaga intermitente em Gleba,
fato só menos inédito que a própria Gleba vista de além. Ecoa que
Gleba seria onde desalinha, a curva que não acaba. Sempre mais um
propondo, bisbilhotando, opinando, porque Gleba moraria no epicentro
de um vale cercado de todos os lados por olhos e más línguas. E na
várzea do lago central, um mercado, na pupila de Gleba, cuja
presença anunciaria a tragédia.
O som absurdo irradia
do buraco inexistente, que se desabriu no primeiro e último
terremoto, reverberando pelas cordilheiras impossíveis, e o solo,
estéril, se consumiu. E quanto mais se tirou, mais se houve que tirar.
Em Gleba não se
chega, não se fica e, de lá, sem lá, não se parte. Os homens de
tempos tantos depois daquele homem crédulo não mais têm que se
despedir. Nem que se cumprimentar, nem que dar bom dia, pois nenhum
morador que não existisse ofereceria comida e abrigo a forasteiro
que não quisesse pousar. Gleba não é hospitaleira, assim,
naturalmente, não se visita Gleba, pois não há quem não imagine
encontrar um hotel onde não há. Mas pra quem fala de Gleba, sua
arquitetura é simples e coerente: tudo que se desconstruísse em
Gleba seria a partir do ângulo negativo do que se nega.
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