Arquivo pretensiosinho

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Penélope

O crochê delicado
sob a fruteira da mesa,
amarelo manga, exala.

Cetins, feltros, xitas,
tiras e pedaços de linhas
coloridas espalhadas
pela colcha de fuxico.
Segredos do sofá.

“Meu amor, não vá
trabalhar...”

Não se diz adeus
em nosso ritual.
Não há ritos, nem risos.
Sorrisos amarelos,
solstícios, só isso,
às vezes um cisco...

É muito. Muito tempo
o presente em qualquer lugar,
menos lá, onde o tempo
descansa descalço.
Imunes às agulhas,
os olhos se acendem.

Viro as costas, sem lembrar
- não há ritos, ou risos,
só o caminho à frente,
que é voltar ao inverso.
Nos olhos – não vejo,
fagulhas.

Minha casa é um peito,
que trago comigo
enquanto o deixo.
Noutras poltronas,
sofás incômodos,
faço renda insuficiente.

Inextinguível aroma de lar
sela os botões na camisa...
O corpo fechado,
do umbigo ao pescoço.
Remoço o canto
das listras: bem-me-quer,
margaridas não têm espinhos.

“Vou-me agora...”
- amargo.

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