Coração de mulher

Para as mulheres e sobretudo para a minha.

Não existe nas ciências anatômicas nenhuma explicação para o que se constata: coração de mulher bate diferente. Nem com dez mil anos de avanço nas pesquisas se poderia decifrar. O coração da mulher aparentemente funciona de maneira normal, ou seja, pulsando segundo os intervalos de tempo que os corações masculinos também pulsam. Erra-se ao entender que quero dizer que um coração de mulher, para ser aceito dentro das regras de normalidade, deve funcionar como um coração de homem. Não é isso. Na verdade, os corações masculinos, seja se dando à literatura que ao brutal homicídio de um irmão, batem em frequência regular, uníssona e previsível. Ao passo que os corações femininos, cada um deles, têm sua própria regularidade. Cada coração de mulher é um espaço específico, reservado ao amor mais sublime e às decisões mais difíceis. Digo mais: enquanto os corações masculinos são feitos de carne e sangue, os corações de mulher são feitos de muitos materiais: lágrimas, sorrisos, olhares, beijos, abraços, perguntas, etc. Todos os materiais referidos são aveludados e mornos, e todos os corações de mulher são feitos um pouco de cada material. Deve-se dizer que o equilíbrio da composição dos corações femininos não é um equilíbrio físico, químico ou matemático. É sobretudo um equilíbrio desequilibrado, e é assim que existe. Mas aquele que mais surpreende os homens é o coração de mulher cujo elemento predominante na composição são as perguntas. Às vezes, um disparate: o que você está pensando agora? O coração de perguntas é aquele ao qual não se responde, visto que não haja mímica, carta ou saliva o bastante. Para confortar um coração de perguntas, deve-se confortar aquilo que nele há de mais raro: lágrimas, sorrisos, olhares, beijos e abraços. Não existe um método simples de fazê-lo: um homem deve entregar sua vida, não para compreender, mas para bastar ao coração feminino. Pois que eu assim escolhi. Quero bastar ao seu coração, habitá-lo e decorá-lo com minhas cores preferidas, as quais não existem em outra parte, somente neste refúgio do mal e abrigo perene de amor: seu coração de mulher.