Arquivo pretensiosinho

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Lo straniero

Sofro de um mal terrível: falta de humanidade. O que é também muito contraditório, tendo em vista que, sem pensar muito a respeito, “falta de humanidade” pode ser um problema de excesso de características humanas. No final das contas, o que me sobra é um ânimo solar. Digo, ando muito otimista, tudo está certo, tudo vai terminar bem. Aliás, tudo começa muito bem e termina muito bem. Não posso culpar o ar. Cá onde estou é inverno, o mais cinza de todos os invernos de minha vida. A culpa é toda minha, já que no percurso natural e nas matemáticas climatológicas de meu eu mais subjetivo, em minhas entranhas, é verão. Algo como pinçar com dois dedos a seta da bússola e aplicar força suficiente para trocar o polo magnético de uma existência. Sou de outro lugar, muito longe deste ambiente. Um lugar que carrego comigo, por onde for, bem embaixo da epiderme. Não que eu queira fazê-lo, mas é que não aprendi a ser de outra forma. Sou incapaz de me sentir um estrangeiro nesta paisagem. Aqui, bem aqui - e bato duas vezes contra o tórax, estou em casa. O mundo é meu transporte. Albert Camus, sim, era um ser humano, eu não. Eu sou uma borracha, sintética, flexível, e que não deixa vestígios. Fui extraído de uma seringueira qualquer, numa floresta tropical, manufaturado além-atlântico, embalado e selado pra voar de volta pra casa, com as extremidades tão roxas quanto pode o pulso lutar contra o frio.


(Bologna, il 28 gennaio, 2011)

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