Arquivo pretensiosinho

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Casualidade

O sujeito virou pra mim e disse que me compreendia, que sabia dos meus motivos e que os aceitava. Eu duvidei, e isso não foi uma mudança em meu caráter. Nem no dele. Impossível mudar um caráter assim. Claro que os caráteres mudam, já superamos isso, mas não assim. Acho mesmo que tudo era uma caótica competição de egos e um exercício tolo de dissimulação. Pelo menos de minha parte, os sentidos estavam à flor da pele e eu explodiria, não fosse minha exímia capacidade de não fazer nada e manter um sorriso amarelo. Calei. Observei. Vi que não era bem isso e que eu poderia estar levando as coisas muito a ferro e a fogo. Sorri ainda um pouco. Olho no olho, mas ele logo desviou. Tive então certeza. Ele não compreendia sequer o frenético movimento dos meus dedos da mão, quanto mais a minha intimidade - desafio enorme. Ele não sabia quem eu era e eu não queria saber quem era ele. E mudamos, sim, depois daquele momento. Mas se trata daquela mudança inevitável que o correr do tempo acarreta. Não há um ponto, nem de interrogação nem de exclamação, entre o antes e o depois. Nem reticências. Eu e ele. Espaço de menos. Nada epifânico, nem especial. O tempo que passamos juntos, algumas horas ou segundos. Não sei. Não houve propósito, nem antipatia. Da contradição do ódio passei para a completa ignorância.
Você conhece o sujeito? Sabe do que estou falando?

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