Arquivo pretensiosinho

domingo, 21 de março de 2010

A mosca.

Não vou me vangloriar da capacidade de observação que meus mil olhos me outorgam. Posso também voar e passo incólume entre os tantos da multidão. Mas nada disso pesa na minha leviandade. Não é minha forma que me restringe ou me delimita. Estou falando mesmo daquilo que sou e que foge além do meu corpo extremamente capacitado, mas frágil. Nasci para ser assim. Equipada de instinto. Somente. Vôo e observo. Vou atrás do que me interessa, zunindo o tempo todo em meus sentidos. Sou uma ao mesmo tempo em que sou milhões. Dizem, por força da presunção, que sou o final da cadeia alimentar. Digo, sem vias de dúvida ou de certeza, das impulsividades que nos fazem iguais: somos iguais. E repito quantas vezes forem necessárias. Se aqui em cima estou no tártaro, sou ainda o topo. Nada de especial. Bizarro e olhe lá. Obedeço à lógica das coisas, os fatos me agradam e me alimentam. O verde me agrada, o negro me esconde, o cinza da fumaça me inebria. Minha paixão? Vermelho. Carnificinas. Posso promovê-las, mas não o faço, não chego tão baixo. Meu dom é observar atentamente de cima. Uma qualidade dentre as tantas dos diferentes. Uma oportunidade me basta. Essencial. Eu e você. Cada um por si. Objetivos diversos. Só o cheiro me obriga a dar tantas voltas. Para mim não há discurso nem solenidade que me bastem. E às voltas do teu corpo estropiado, nossa essência. Um igual. Faça-me o terreno fértil para plantar meus filhos, no teu olho seco que se dissolve pelo tempo árido. Sobrevivo até então. Vejo vida na morte. Caiam bombas, revoluções, telhados, teorias, potes de açúcar, crianças, tudo ao chão. Vou rasante. zzzzzzzzzz.

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