Arquivo pretensiosinho
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Cataclismo
Dizem por aí que o mundo vai acabar. Eu acredito. Espero só não ter que ver. Não moveria uma palha. Não faria pilhéria. Seria parte da escória malacabada que pende da janela esperando o próximo furacão. E que venha logo. Que um sopro certeiro apague as velas e o escuro repentino esconda o pouco de cuspe que se lançou pelas ventas. Tanto faz, eu já disse. Já estou cansado de dizer. Espaço. O que esse mundo precisa é de espaço. E talvez não necessite de tanto espaço quanto eu. Que venham os asteróides os tsunamis infames que povoam os noticiários. Um braço. Uma perna. Um abraço no tronco. E que não reste uma câmera, um celular, um pedaço de papel. Que essas linhas se dissolvam. Porque não valem a pena. Independente do tamanho da alma. Agora o que conta é o corpo e o atrito. Não vale a pena. Toda aquela baboseira de física quântica, que se exploda logo. Seria o triunfo maior, não? A prova de nossa capacidade de previsão. Joguem as runas. Leiam as cartas. Quem é que para pra ler uma carta de seu bem? Que bem que manda carta? Quem é que tem amigos? Na calada da noite perpétua. Darwin, meu caro, não precisava de tanto. Pra quê olhar pra trás? Pra quê forçar uma cadeira de balanço que vem e que vai? A onda leva. Obediente marejar. Se livrem de seus botes. De suas botas pesadas. Não recriminarei os que andam descalços sem um rumo. Mas não me movo. Não me mexo. Não me deixo. De jeito nenhum. Larguem mão dos objetivos. Entreguem seus filhos com um abraço e papai-do-céu. É o máximo, o divino, o absurdo. Pra todo lugar que olho. Os prédios pedem por um terremoto que chacoalhe nossa cabeça. Talvez ponha algo no lugar, que por um instante valerá a pena. Mas não haverá poesia. E ninguém saberá. Malditos heróis e sangue nas veias. Corram feito o caos. Feito cães sem dono. De mudança. Vamos todos prali onde a vista é melhor. Onde nada muda enquanto o mundo desaba. Negativismo? Já passou o tempo. Factuação. Fatoração. A ordem não altera o resultado. Espero só que seja às cinco da tarde. Tomarei chá com bolachas e chamarei o Tobias. Abro o guarda-chuva pra achar graça. “Toca Beethoven, toca Beethoven! Ludwig van...”. Esse já foi a um show de rock. Única saudade. Da janela emoldurada num cataclismo de agora. Eu olhei pra ela. Ela olhou pra mim. Big Bang. Não resta história.
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