Arquivo pretensiosinho

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Desconforme

Como pode a verdade
esconder-se nas costas
dos surdos pela vergonha
de estar certa?

Aquele que a escuta
jamais saberá.

Como pode o amor
verter-se nos rostos
dos mudos pela necessidade
de ser escutado?

Aquele que o invoca
jamais saberá.

Como pode a luz
insinuar-se nos sonhos
dos cegos pela incapacidade
de ser iluminada?

Aquele que a enxerga
jamais saberá.

Como pode o medo
encrustar-se nas goelas
dos açoitados pelo sabor
de ser venerado?

Aquele que o engole
jamais saberá.

Como pode a matéria
inchar-se nos corpos
dos mortos pela ironia
de ser novamente?

Aquele que a acaricia
jamais saberá.

Como pode o absurdo
contrair-se em epifânicos
segundos pela fortuna
de ser solitário?

Aquele que o pensa
jamais saberá.

Como pode a poesia
entrincheirar-se nos poemas
obscuros pela fragilidade
de ser tudo isso?

Aquele que a escreve
jamais saberá.

2 comentários:

  1. Adoro essa ténica de refrão e você a usou muito bem, nível Alberto Pidwell! A relação do paralelismo com as estrofes anteriores é direta, mas não cai no simples "o cego vê e o mudo fala". Vou ler mais vezes. até!

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  2. Tomo isso como um elogio: Muito obrigado!!! A propósito, não li Cesare Pavese, deveria ter lido, mas não conheço nada... hehehehehe... abraço!!!

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