Quando o conheci, mal
sabia,
já tardava o Fundador
do Mundo
a carregar-se de penas
à mão.
“A leveza...”,
diria ele, se soubesse
dizer de pesos e
medidas
“...a leveza se mede
pelo peso
de teus próprios
ombros, rapaz”
Diria com propriedade
avessa,
pois que nunca se
carregou só,
ainda que convença do
contrário.
Errante, como a mula
guiando
à cabriola o espanhol
sanguinário,
foi-se por aí ter com
os nativos
de seu próprio mundo
puído.
Levou das bainhas os
gumes,
das estrelas banhos de
negrume,
dos uivos a noite
tremenda.
Carregou-se muito de
pouco,
e preferiu o instinto à
trilha.
Quando o conheci,
estendeu-me
a mão. Onde vi
fraternidade,
havia, na verdade, um
grito de ajuda:
“Beije-me os dedos
escalavrados,
glorifique este meu
pútrido pedaço...”
As mãos que fundariam
o mundo
clamando de mim o
absurdo:
beijar leproso como a
um santo.
Lázaro sem manto,
Atlas anti
titânico, viga sem
prumo.
Erigiu para si um
túmulo,
e o fez com as pedras
coalhadas
no próprio peito
abscesso,
e nos rins desrimados.
Conquistador de elmo
desalmado,
Francisco de ego
inflado.
Como eu, mero
observador barato,
resistiria às pérolas
do mercante amigo?
Infeliz dele, e de quem
o tocar.
Midas de petróleo, de
asfalto.
A fama, também a
carregou no bolso,
e acabou assim difamado
e faminto.
Quando o conheci, me
apresentou
o mundo que ainda não
havia fundado,
conhecimento profundo,
sobraçado.
“É isto que trago:
um cigarro, uma cana...
só preciso disto e de
uma cama
que não seja a minha
própria.
É lá que se funda o
mundo, rapaz
atrás dos morros de
mulher,
donde morro cada vez
se me chego ou me
afasto.
Os lábios, os lábios
são o Fausto,
e a morte é o único e
vasto campo
onde semeia Davi, o
mais forte dos fracos”
Peço-lhe uma pena,
Fundador,
pra fundir a tua à
minha
pequena imagem de
autor,
cuja sagra é só cocar
menor,
eco do eco de teu
melhor...
Nenhum comentário:
Postar um comentário